Não tenho a menor paciência para essa invasão hamburguística em São Paulo.
Parece que toda uma geração de cozinheiros só sabe moldar e grelhar carne moída.
Por isso acho bem, bem, mas bem difícil valer a pena ir a uma hamburgueria nova – e mais difícil ainda ter razão para escrever sobre ela. Então visitei a nova C6 Burger.
QUE HAMBURGUERIA.
A história começa por quem faz, claro. No caso Marcos Livi. O chef é sócio dos bares Veríssimo, Quintana e Botica, da deli Officina e da pizzaria Napoli Centrale (cujo sócio no empreendimento, Gil Guimarães, também tem sociedade na C6), profundo conhecedor de carne e pesquisador de produtores artesanais de excelência no Rio Grande do Sul, entre outros predicados. Pois Livi trouxe para o C6 algo fundamental num estabelecimento cujo foco é proteína animal: carne de qualidade.
Quando falo ‘qualidade’, não me refiro a ‘açougueiro’ famoso, peças 200 anos dry aged ou hipérboles publicitárias sem reflexo na realidade. Me refiro a como o animal foi tratado, o que comeu, como foi abatido. Ao que uma vida e alimentação dignas refletem no produto final. Pois toda a carne usada na C6 vem de gados da raça Hereford criados no sul do Brasil, em liberdade e alimentados 100% a pasto (nada de entupir o bicho de grãos no fim da vida para ganhar peso rápido). O resultado desse cuidado são hambúrgueres suculentos, pouco gordurosos, untuosos na medida certa. Um primor.
O primor na seleção da carne também se estende ao pães – preparados na padaria de Livi -, aos queijos provenientes de pequenos artesãos do Rio Grande do Sul e a pesquisa de defumação do chef, que resultou no Arquivo, espécie de pit vertical que defuma e assa em diferentes alturas e temperaturas (e é, mesmo, um arquivo adaptado).
Excelência nas cervejas, com curadoria da sommeliere Carolina Oda, servidas numa ‘parede de auto atendimento’ na qual estão dispostos sete rótulos artesanais rotativos, além de uma torneira exclusiva para gin tônica. O cliente compra um cartão, carrega com com o valor que quiser, serve-se, leva para a mesa e, sobrando grana, guarda para a próxima visita.
E excelência em algo quase completamente esquecido por 99% das hamburguerias: vegetais.
O trabalho cuidadoso de Livi com eles – desde a deliciosa batata frita (fina e crocante, como gosto), até as opções de sanduíches nos quais são a estrela – me deixou bem feliz. Dois bons exemplos são o intenso Mãe Terra, burger vegetariano de beterraba e cogumelos salteados que leva o nome do queijo cremosíssimo produzido no Rio Grande do Sul que vem sobre ele e é acompanhado por cebola caramelizada, alface e tomate chamuscado (R$ 28) e o pão grafite (espécie de naan, feito com adição de carvão ativado, fermentado longamente e assado no forno a gás na Napoli Centrale), com abobrinha, berinjela, cenoura, cogumelos, cebola, beterraba, hortelã, nata e gergelim (R$ 21).
Voltando às carnes. Há dois métodos de preparo e tamanho de hambúrgueres. Os smash tem 100 gramas e são feitos na chapa, com valores que vão de R$ 16 (Cheeseburger) até R$ 20 (Cheese bacon). Os maiores, com 170 gramas, saem da parrilla, caso de delicioso Korea (pão americano, saladinha pamuchin, molho gotchujang, kimchi, panceta e maionese, R$ 28), do Carbón (brioche, queijo colonial, bacon com redução de vinagre, tomate chamuscado e maionese, R$ 24) e do Raclette (brioche com queijo raclette do Sul, picles de pepino e maionese, R$ 36).
Para finalizar, milkshakes de pipoca ou brownie.
O Mercado de Pinheiros ganhou mais uma tremenda atração gastronômica.
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