O Capivara Bar não costuma sair em guias de jornais e revistas: abriu há quase um ano e pouco se encontra sobre ele na internet. Não atrai uma legião de foodies famintos por likes. Não tem projeto assinado por arquiteto famoso. Não trabalha com assessoria de imprensa. Não fica no eixo Pinheiros-Vila Madalena-Itaim. Não serve negroni.
O Capivara fica em um galpão instalado numa rua desprovida de qualquer charme na Barra Funda. Funciona apenas para o jantar, entre segunda e quinta. As mesas são coletivas e os talheres, descoordenados. Só tem um tipo de cerveja – e não é especial. A cozinha é aberta, não por ser cool, mas por não haver outra possibilidade no imóvel. O cardápio é afixado numa placa na parede.
De fora (e por dentro), o Capivara parece um pé sujo. Mas é, em verdade, algo insuspeito e inusitado: um boteco com comida digna de restaurante de alta gastronomia.
Ao chegar lá, num sábado, não sabia o que esperar: pedi o menu todo e fiquei observando o movimento na cozinha. O chef aqueceu os pratos num pequeno forno antes de colocar sobre eles as gordas e perfeitas fatias de prejereba, que ganharam untuosa manteiga de limão e vegetais da estação grelhados; usou o pano para pegar a pilha de pratos em cima do móvel e evitar deixá-los com marca de dedos; não tirou os olhos de sua bancada, numa concentração quase religiosa. Atitudes assim só costumo ver em restaurantões – isso, quando vejo! -, daqueles com louças sob encomenda e preços acima dos três dígitos.
Qual minha surpresa ao receber finíssimas fatias de cogumelos eryngui crus, salpicadas por amêndoas e avelãs torradas, pecorino ralado e bom azeite de oliva, em apresentação delicadíssima? Era como estar sentada em um mundo e comendo em outro.
Ingredientes de evidente qualidade e frescor.
Ventilador de chão para abrandar o calor.
Criações lindas, equilibradas e sutis.
Guardanapo de papel.
O responsável pela cozinha é o chef Rodrigo Felício. Com passagens pelo hotel Ritz de Paris, Dom, Chou, Le Jazz e Carlos Pizzaria, Felício é um cozinheiro detalhista, dedicado, que sabe preparar peixes como poucos: o Capivara sempre tem uma ou duas opções, caso da sororoca a provençal, da caranha assada com vermute e batata e do impecável escabeche (um dos poucos itens fixos).
Os preços das porções e entradas vão de R$ 18 a R$ 34; pratos principais, de R$ 34 a R$ 42. O bar não cobra rolha, o que faz muita gente levar os próprios vinhos.
O Capivara é um lugar único, dono de uma divertida e deliciosa esquizofrenia.
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