Açaí: tesouro amazônico

De cerca de quinze anos para cá, o açaí ganhou o mundo com o status de “superfood”, aquela categoria de alimentos a qual alguns cidadãos atribuem características quase milagrosas. De comida presente no dia-a-dia apenas dos moradores dos estados amazônicos, tornou-se febre na Califórnia, na Europa e no Japão.

Rasas de açaí prontas para seguirem para o Mercado

Pois apesar desse fruto de palmeira nativa da Amazônia não ser a panacéia universal, é realmente repleto de “lipídeos como Omegas 6 e 9, além de carboidratos, fibras, vitamina E, proteínas, minerais (Mn, Fe, Zn, Cu, Cr) e grande quantidade de antioxidantes”, segundo estudo da Associação Brasileira de Nutrologia. “Antocianinas são os compostos que contribuem com a maior capacidade antioxidante da polpa do açaí. Os componentes do açaí parecem ter efeitos benéficos como antiinflamatório, no perfil imunológico, na dislipidemia, no diabetes tipo 2, na síndrome metabólica, no câncer e no envelhecimento”.

Ribeirinho subindo na palmeira para colheita do açaí: processo tão bonito quanto arcaico e perigoso

AUMENTO DE CONSUMO

O fato é: nosso açaí agora é conhecido e desejado de Porto Alegre a Tokio, e sua exportação vem aumentando ano a ano. Em 2016, foram processadas mais de um milhão de toneladas.“Hoje, a Amazônia exporta matéria muito primária: minério de ferro, madeira e carne. Mas a economia da floresta em pé, baseada em produtos de alto valor potencial, é muito poderosa. Açaí é um exemplo. Movimenta atualmente quase o mesmo montante da madeira, que é quase toda ilegal, cerca de 2 bilhões de dólares/ano”, fala Carlos Afonso Nobre, climatologista, Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, membro do “High Level Scientific Advisory Panel on Global Sustainability” do Secretário Geral da ONU. Com a valorização no mercado, na última década muitos açaizeiros, nas áreas próximas aos grandes mercados consumidores de açaí da Amazônia, deixaram de ser derrubados para a extração de palmito e passaram a ser mantidos para produção de frutos.

Porém, se a cultura do açaí pode ser um fator importante na preservação da floresta por ter alto valor agregado e nascer entre outras espécies (cacau, bacuri, uxi, entre outroas), o que gera renda durante todo o ano para o ribeirinho, a preocupação de alguns ambientalistas e pesquisadores é que ela vem se tornando motor de danos ambientais. “O açaí, como cultivar, está em franca expansão no Estado do Pará, dada a demanda no Brasil e exterior. E este incremento tem matizes complexos, econômicos e sociais. Os plantios altamente tecnificados, irrigados e mecanizados, são grandes e crescem numericamente, permitindo que encurte o período de entressafra”, diz César De Mendes, pesquisador baseado no Pará, chocolatier e profundo conhecedor da floresta. “No estado do Pará, indo por contágio para o Acre, Amapá e Amazonas, o açaí está se tornando uma monocultura como soja, milho, trigo, arroz etc.. Matas nativas vem sendo derrubadas e matas ciliares, em regiões tradicionalmente de ribeirinhos, sendo alteradas afetando o ecossistema e erodindo as margens argilosas dos rios”, finaliza.

Traduzindo: não dá para um alimento local se tornar mania mundial sem, com isso, trazer revezes. Para a produção ser sustentável, o consumo também precisa ser.

Produtor separando o açaí do cacho: processo altamente artesanal

MÉTODO DE COLHEITA E UM ERRO

Quando você assistir ao vídeo, verá que afirmo que toda a colheita é feita artesanalmente. Erro meu. Ela não é. A maioria, ainda, é realizada assim. Porém, como pode-se ler acima, o aumento das áreas de plantio irrigado e de monocultura trouxeram consigo a colheita mecanizada.

Falando da forma predominante: é um processo tão arcaico quanto belo e perigoso. Por conta da infinidade de acidentes, várias empresas tem criado ferramentas de colheita, que evitam o escalamento, mas também aumentam a perda de frutos. O que parece romântico para quem olha de fora, é fisicamente desgastante e altamente inseguro para quem vive.

Açaí sendo batido, processo que separa o caroço da polpa

 ALGUNS DADOS SOBRE O AÇAÍ
  • Das variedades de açaí, duas são mais conhecidas, o preto e o branco. O branco – na verdade, verde – tem sabor parecido com o do abacate e é bem mais raro. O meu predileto: e só como quando vou a Belém…

    Açaí verde: raro e delicioso

  • Cerca de 80% do fruto é composto por caroço. Para evitar que todo esse volume de matéria orgânica vá para o lixo, empresas privadas estão desenvolvendo métodos de utilizar o caroço como biocombustível.
  • O Pará responde por mais de 90% da produção mundial.  75% é destinada ao mercado local e 25% para as demais regiões do País e exterior.

Açaí puro, recém batido, no Point do Açaí, em Belém: só indo lá para saber a diferença deste para a gororoba adocicada que comemos no Sudeste

  • Após colhido, os frutos são colocados em rasas, cestas de transporte e medida local que gira em torno de 28 kg.
  • O valor da rasa pode variar de R$ 70 a R$ 300, dependendo da qualidade e da época do ano.
  • A safra do açaí vai de agosto a novembro.

Nasce do sol rumo a uma das áreas produtores de açaí perto de Belém, no Pará

  • Antes chegar às lojas, normalmente, a polpa do açaí passa por beneficiamento, no qual recebe aditivos, como xaropes e açúcar, que garantem a consistência do produto. Açaí puro é OUTRO papo.

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