Rosa Maria: amor, tempero e toque de avó

Estabelecimento fechado

Costelinha caramelizada com alecrim

 

Algumas “tendências” na gastronomia me dão um pouco de preguiça. Essa mania de ter foie gras, ceviche, redução de tralalá e espuma de trololó em tudo quanto é menu é chata pacas; não pelos ingredientes ou técnicas em si, mas porque quando se emula/imita demais, perde-se a originalidade e transforma-se num genérico esmaecido. E, na boa, alguns dias quero comida caseira, aquela bem temperada servida no pratão, que se come com o mesmo prazer de quando éramos crianças e chegávamos para o jantar depois de brincar o dia inteiro. Ah, e como isso é difícil de ser encontrado em São Paulo…

Ontem fui almoçar no novo Rosa Maria, aberto há menos de dois meses na Vila Madalena, e minha refeição aliou o melhor dos mundo: receitas absolutamente caseiras ótimamente executadas, serviço bom, ambiente gostoso e um nítido amor pelo que se faz.

Sobrado claro, iluminado e de bela decoração minimalista, o Rosa Maria quer ser o que é: restaurante que serve bons pratos cujos quatro donos comiam (e amavam) na infância. A inspiração, além das avós, é o livro “Arte e técnica de receber bem”, da cozinheira portuguesa Rosa Maria, que marcou a infância de um dos proprietários por ser a bíblia gastronômica de sua mãe. Escrito na década de 30, a obra da chamada “a cozinheira das cozinheiras”  traz 500 receitas e um guia completo de como tratar e o que servir desde a vizinha que vem pedir açúcar até o jantar formal com o Presidente. Ou seja: um compêndio do comer bem e, acima disso, do viver bem. Não conheço melhor inspiração.

Arroz de polvo para dois: molusco maciíssimo, marinado em páprica

 O Rosa Maria é isso: comida boa, farta, muitíssimo bem preparada, servida em travessas daquelas de colocar no centro da mesa para que todos enfiem a colher (o menu já deixa claro que todos os pratos são para duas pessoas). Mais familiar, impossível. Comecei com a tenra e carnuda costelinha suína caramelizada com alecrim (R$ 28). Macia, soltando do osso, trazia o dulçor do caramelo e a pungência do alecrim em perfeita harmonia.Para principal, fiquei em dúvida entre a Brandade de Bacalhau (R$ 60), o Rosbife de filé ao molho mostarda com purê de mandioquinha e batata (R$ 62) e o Arroz de Polvo (R$ 70). Mas quando chegou o prato da mesa ao lado, danou-se: senti o aroma do arroz de polvo e quis um TODO pra mim. Marinado na páprica picante, o polvo foi um dos mais tenros que já comi– ponto perfeito. A leve picância do condimento teve caso de amor eterno com a salsinha, cebolinha e o delicado refogado de cebola e alho do ótimo e soltinho arroz. Fui muito feliz.

Mousse de laranja: como coisas simples, sendo bem feitas, podem ficar geniais, não?

Para terminar, Mousse de laranja (R$ 14). Beeeem aeradinho, feito com suco natural, acompanhado de calda de laranja. A acidez da fruta quebrava de maneira linda o açúcar da receita. Quando foi mesmo que laranja deixou de ser “moda” em sobremesas?!

Conhecer o Rosa Maria para mim foi como comer na casa de um amigo cuja cozinheira a família toda se estapeia para contratar…

Rosa Maria: Rua Purpurina, 107, Vila Madalena, São Paulo, tel.: 11 3062-1790

Comente

Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados