Ravióli de limão e banana ouro do D.O.M.: para sempre na memória

Alguns pratos fazem seu quarto na memória. Mesmo após anos, é possível sentir– sem esforço– os sabores, aromas, texturas. São raros de encontrar: para que “aconteça” um deles é necessário harmonia perfeita dos ingredientes, quase uma história de amor terminada em “felizes para sempre”. Semana passada, aconteceu.

Estava no almoço promovido pela Dom Pérignon para apresentar a Dom Pérignon Vintage 2000 (genial!). A escolha: D.O.M. Mas do que isso: o famoso Menu do Reino Vegetal de Alex Atala, a prova definitiva que, com talento e conhecimento, mata-se a história de que “vegetarianismo é mato sem gosto”.

A sequência: Tartar de tomate, arroz selvagem, trigo, melaço de romã e beldroega (uma verdurinha gordinha); Fettuccine de palmito pupunha com cebola, pimenta de cheiro e coentro; Creme de coco, dendê, menta, shoyu e nori (risoto líquido); quiabo, quiabo, quiabo (três preparos com o vegetal, no mesmo prato); quirera com manteiga de garrafa, manteiga tostada, creme de leite reduzido, gema de ovo e toffee; Aligot (mistura de queijos). E, então, o prato que se fixou na minha memória gustativa.

Pequenos círculos transparentes, como águas-vivas, contendo em seu interior finas fatias de banana ouro e um perfume intenso, pungente, vindo de um dos ingredientes mais queridos de Atala: priprioca. Na boca, a massa gelatinosa em nada lembrava a consistência da gelatina; mais parecia um pedaço de seda geladinho, levemente amargo, que se desmanchava ao toque da língua, misturando-se lindamente ao dulçor da banana. No fundo do nariz, o perfume amadeirado da priprioca.

Fechei os olhos por um segundo e fui levada para aquela rede pendurada nas árvores à beira-mar no verão de Boipeba.  Aquela rede que virou meu refúgio/paraíso durante os dias de férias– balançando levemente, com a brisa morna embalando meu sono pós-caipirinhas, enxergava apenas o mar calmo, a praia vazia, os coqueiros.

 O ravióli de limão e banana ouro ao perfume de priprioca do D.O.M., por alguma razão desconhecida, despertou uma sensação absolutamente reconfortante de bem-estar. Talvez o aroma tenha me remetido a algum momento ou local agradável do passado; talvez o sabor, sem que eu percebesse, foi associado a uma situação isenta de inquietações . Não sei. Só sei que, para mim, isso é o que uma comida excepcional faz, mesmo sem querer: desperta.

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