Galinhada do Atala: a comida é apenas uma parte da festa

O bufê fica dentro da cozinha do restaurante-- é só pegar seu prato e se servir

Uma e quarenta e cinco da madrugada de sábado para domingo. A Rua Padre João Manoel, na região dos Jardins,  já “esfriava”: um ou outro cidadão andando pela rua, restaurantes fechando, poucos carros estacionados, uma certa tranquilidade que só o avançar da noite traz. Mas bastou chegar na frente do número 1115, onde fica o Dalva e Dito, para a cena mudar por completo:  animados grupos na calçada, fumando e conversando; uma multidão lotava o restaurante, alternando garfadas, risadas e, os mais empolgados, uma rodopiada no meio do salão, embalados pelo grupo de samba que passeia por entre as mesas e depois instala-se no andar de baixo da casa, que se transforma numa pista de dança. O clima da nova galinhada que Alex Atala está fazendo todos os sábados, das 0h às 3h, é de festa na casa de amigo. E, num certo nível, não deixa de ser.

O ótimo quiabo refogado

frequência é uma mistura de “riquinhos-modernos” dos Jardins com chefs, amigos de chefs, cozinheiros e equipes de restaurantes (que, depois de fecharem seus estabelecimentos, vão para lá dar uma relaxada). A mistura funciona: a galinhada em si é boa (preparada pelo subchef Geovane Carneiro), mas a balada que cresceu em torno dela, melhor ainda. Apesar do pouco tempo de existência (há um mês), virou ponto de encontro do pessoal da gastronomia, ocasião para estarem juntos sem a necessidade de manter a postura profissional e comedida que tem nos próprios salões, e com uma única obrigatoriedade: permanecer com um copo de bebida na mão (no meu, a deliciosa cerveja pilsen da Backer). O evento tirou do Dalva e Dito, de vez, a imagem de “a casa do Atala que não vai pra frente” para colocá-lo no patamar de endereço badalado.

O salão do Dalva e Dito: 1h45, completamente lotado

O chef parece bem feliz com sua nova idéia: permanece lá do começo ao fim, dançando ao som de “ôoooo, Madalena”, conversando com os clientes, posando para fotos e dando boas vindas a todos. Sempre com um sorrisão. O perfeito anfitrião, daqueles que chegam antes do primeiro convidado e só desaparecem quando a festa morreu por completo– nesse caso, lá pelas três e meia da manhã, no momento em que o grupo de samba encerra sua participação e arranca “ahhhhhhs” dos “foliões”.

Arroz de pequi, galinhada, pirão de galinha, farofa e quiabo refogado: R$ 29 reais para comer quanto quiser

Ah, sim, a comida:  boa. Para atender o paladar de seu público, é bem mais leve que as galinhadas tradicionais como a do Bahia , mas ainda assim saborosa. Custa R$ 29 por pessoa e funciona assim: entre na cozinha, pegue seu prato e sirva-se quanto e quantas vezes quiser no bufê. Tem arroz branco, arroz de pequi (ótimo!), farofa, galinha ensopada, galinha assada  e quiabo refogado. Me diverti grandemente ao observar algumas peruas (calçando sapatos que, certamente, valiam mais que cinco salários do garçom), olhando com  nojinho para o pescoço de galinha que haviam colocado no prato– pela única razão de não saberem do que se tratava—, mas comendo-o mesmo assim. Praticamente uma incursão sociológica. No dia seguinte elas poderiam contar para as amigas sobre a coragem que tiveram, a aventura gastronômica pela qual passaram, porque, afinal, não era um pescoço qualquer. Era um pescoço de grife. O pescoço da galinha de Alex Atala.

Só senti falta de um docinho no final, algo simples como um brigadeiro ou tradicional, como ambrosia. Como todo mundo bebe bastante, seria bom ter uma “dose de glicose” à disposição. Para, então, cair novamente no samba.

Dalva e Dito: Rua Padre João Manuel, 1.115, Jardins, tel.: 3068-4444. ABERTO AO PÚBLICO, PARA A GALINHADA, SOMENTE DAS 0HS/3HS

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