Carlinhos: pratos armênios em meio a picanhas e fraldinhas

Arais, sanduíche criado no Carlinhos e feito com pão sírio e carne de kafta, tem patente há 30 anos

Outro dia, almoçando com um amigo cuja mulher é descendente de armênios, vi a primeira foto do Bastumalã do Carlinhos Restaurante e dei uma bela babada: fatias finas de carne de boi curada, pinceladas com cominho, curry, páprica doce e picante, alho, sal e tchemen (tempero armeno à base de feno grego e páprica), cobertas por 5 ovos fritos com gema mole. Quase tive um troço. Precisava provar.

Provei e gostei.

A alma do prato é a basturma (carne curada e bem temperada), feita no próprio restaurante. Salgada, levemente picante, com sabor intenso pacas da mistura de ervas e temperos. Preenche cada papila gustativa. O negócio é furar a gema, misturar tudo e mandar ver – e, depois, raspar o prato com o pão árabe. O basturma custa R$ 22,80; Bastumalã, R$ 36,80.

Estante de cachaças do Carlinhos; o salão simplão; quibre cru coberto por carne moída temperada e salteada

A casa tradicional no Pari é famosa mesmo por suas carnes, especialmente a picanha, e vive lotadaça (esperei 40 minutos por uma mesa). Mas é o pequeno cardápio de comida armênia que me fez atravessar a cidade: aquele mesmo amigo me disse que vai pra lá toda vez que procura por comfort food. A mais comfort de todas, pra mim, foi o arais, criado lá pelo fundador do restaurantes, Missak Yaroussalian, e patenteado há quase 30 anos! Na real, ele é simples: carne de kafta bem temperada esparramada no pão árabe. Então, vão ao forno e saem de lá com crostinha crocante e carne suculenta (R$ 8,50; R$ 10,50, com queijo). Na fila mesmo já mandei uma porção. “Ele estava morrendo de vontade de comer uma esfiha, mas tinha disponível apenas carne de kafta e pão sírio”, conta Fernando, filho de Missak, sobre o momento “Eureka”.

Bastumalã do Carlinhos Restaurante: fatias finas de carne de boi curada, pinceladas com cominho, curry, páprica doce e picante, alho, sal e tchemen (tempero armeno à base de feno grego e páprica), coberto por 5 ovos fritos com gema mole

O sucesso é tanto que há uns anos a família abriu o Arais do Carlinhos, dedicado ao sanduba.

Outra comida porreta – e, mais uma vez, bem temperada- é a porção farta de quibre cru coberto por carne moída temperada e salteada (R$ 34,80), que chega com um maço de hortelã fresca. Acompanhei com  o homus (R$ 17,80) caseiro, meio mole demais e com bastante alho (a coalhada seca, que havia pedido, tinha acabado) e uma coca zero com limão no gelo (veja foto). Nem senti inveja do cara ao meu lado, matando uma picanhona com batata frita.

Homus caseiro; a delicadeza do gelo feito com um pedaço de limão; hortelã fresca para acompanhar o quibe cru

Daqueles lugares de São Paulo que vale a pena conhecer.

Carlinhos Restaurante: R. Rio Bonito, 1.641, Pari, tel.: 3315-9474