Bar da Dona Onça: para comer muito bem (e muito!)

Codeguim com lentilha: BOM DEMAIS

Meu currículo gastronômico paulistano tinha um rombo parecido com aqueles que surgem no asfalto da cidade depois de uma temporada de chuva: não conhecia o Bar da Dona Onça. A chef Janaína Rueda já ganhou prêmios, acumulou elogios e, há alguns meses, ainda teve uma adição e tanto em sua equipe: seu marido, o também chef (e também aclamado) Jefferson Rueda.

No sábado, acabei com essa palhaçada de nunca ter comido por lá e, cedinho, 12hs, me instalei no salão– aos finais de semana, o lugar tem filas de espera de até uma hora e meia, por isso é recomendado madrugar. O bar, que fica no térreo do Edifício Copan, está mais para restaurante de clima descontraído e tranquilo, lotado de amigos, famílias inteiras e gringos visitando a cidade e entornando litros de caipirinha. Nada de garotada barulhenta enchendo as mesas de garrafas de cerveja ruim.

Liinguiça artesanal (feita pelo chef Jefferson Rueda), barriga de porco frita e vinagrete

Bem, para começar, Jeferson mandou o codeguim (R$39), um prato pelo qual ele tem especial apreço. Versão abrasileirada do cotechino (que virou codeguim), é uma linguiça caseira de porco– e assim como na Itália, é servida com lentilha e tomate. Olha, na boa, eu poderia almoçar só uma panelada dela: macia, com gordura apenas na quantidade certa para potencializar o sabor, gostosa pacas sem ser pesada.

Meu prato de feijoada: bisteca de porco, tartare de banana, couve crua fininha, maxixe, feijão preto, arroz e farofa

Antes de terminar a última garfada, outro pratinho chegou à mesa: bolinho de espinafre (praticamente sem farinha, leve, sequinho e super bem temperado: R$ 26 a porção) e couve flor empanada à perfeição (R$ 26 a porção). Cinco minutos depois, outra porção: linguiça (também feita por Jefferson, R$ 34 a porção) frita e barriga de porco crocante (R$ 29 a porção), acompanhados por um delicado vinagrete que conseguia deixar sua acidez no ponto exato para quebrar a gordura mas não se sobrepor ao gosto das delícias suínas. Só então pedi o prato que, originalmente, estava lá para provar: a feijoada.

Feijoada do Dona Onça: para mim, a melhor de São Paulo

Não foi pouca gente que me disse “A feijoada do Dona Onça é a melhor de São Paulo”. Claro que esse tipo de coisa é muito vaga, já que ninguém comeu TODAS as feijoadas de São Paulo. Porém, quem ama comer sabe bem aonde ir para devorar sem erro determinados pratos (lasanha, bacalhau, carne…) e tem uma boa idéia, por amostragem, do que está falando. Então estava com expectativa meio alta para a comilança feijoadística de um sabadão frio.

Em vez de banana frita, bananas cortadas em cubinhos pequeno, levemente temperadas e acompanhadas por pimenta biquinho. No lugar da couve frita, crua, crocante, fatiada na grossura de um fio de cabelo e tempera apenas com sal, limão e azeite. Maxixe cozido, arroz, bisteca de porco, torresmo, farofa, laranja e…. sim, a melhor feijoada de São Paulo (R$ 76 para duas pessoas).

Churros incríveis com doce de leite cremoso

Esqueça essa história de cozinhar orelha numa panela, paio na outra, lombo em outra: pode ser mais light, mas dispersa o sabor que deve, isso sim, ser concentrado. Para mim, é como fazer um caldo de legumes cozinhando cenoura, aipo, cebola separados e, só no final, misturar. Parece dar na mesma, mas não dá. Então, a feijoada encorpada, espessa, é repleta de pedaços macios, tenros e absolutamente bem cozidos de vários tipos de carne que passaram horas doando seus sabores para o feijão preto. Um primor.

Para quem quer algo mais sutil, recomendo vivamente as massas artesanais de Jefferson. O menu é o seguinte: Picci integral com ragú de cogumelos silvestres (R$39; domingos), Ravioli de beterraba com mascarpone e cebola crocante (R$39, segundas);  Gnocchi de mandioquinha ao leve creme de parmesão e rúcula (R$40, terça-feira), Tortelloni de ricota de búfala ao molho de pancetta e espinafre (R$41, quarta);  Tortelli de abóbora na manteiga e sálvia (R$40, quinta), Ravioli de bacalhau ao molho de azeitonas (R$44, sexta) e Ravioli de burrata com manjericão ao molho sugo (R$42, sábados).

Trio Elétrico: doce de leite, quindim e brigadeiro de colher

Lá pelas 15h30 eu já estava completamente fora de combate e com a certeza que o resto do dia seria útil para fazer apenas uma coisa: nada. Mas ainda consegui provar as sobremesas (generosas) carros-chefes da casa: Trio Elétrico (pudim de leite, quindim e brigadeiro de colher, R$ 15) e os ótimos churros com doce de leite (R$ 16). Ah, sim: Jefferson me ensinou que a maneira certa de comer é picá-los e jogá-los dentro do doce de leite cremooooooso– e daí resgatá-los com amor e uma colherona.

Como você deve ter reparado, não é um lugar baratinho, muito menos um boteco. Você gasta, mas leva o que paga.

Bar da Dona Onça: Avenida Ipiranga, 200, lojas 27/29, tel.: (11) 3257-2016

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