Samosa & Company: o indiano – feito por indianos – chega ao Jardins

Prato ícone da cozinha indiana, o Roghan Josh traz cabrito em molho denso, aromático e riquíssimo

Prato ícone da cozinha indiana, o Roghan Josh traz cabrito em molho denso, aromático e riquíssimo

Brasileiros, em geral, são preconceituosos com a comida indiana. Acham que vão morrer incendiados pela potência nuclear da picância. Mentira. A comida indiana leva pimenta para incrementar o gosto  — tipos diferentes em cada prato, com sabores diferentes — e não para anestesiar as papilas gustativas. Quem já comeu um masala caseiro bem feito, belamente incorporado a tenros pedaços de cabrito, por exemplo, sabe do que estou falando.

As deliciosas samosas da Deepali em novo endereço, agora nos Jardins

As deliciosas samosas da Deepali em novo endereço, agora nos Jardins

Por conta desse temor da quentura e do número reduzido de imigrantes indianos em São Paulo, são raros os restaurantes desse tipo de cozinha. Meia dúzia, se muito. Um deles é o Samosa & Company, no bairro da Saúde, comandado por Deepali Bavaskar e seu marido Veejay. A boa nova é que ele acaba de ganhar uma segunda unidade, na Alameda Jaú, nos Jardins.

Os imperdíveis naans assados na hora

Os imperdíveis naans assados na hora

Deepali cozinhava em casa, para o marido e os dois filhos, mas começou a encarar isso como profissão quando Veejay sofreu um ataque cardíaco e foi demitido (tudo no intervalo de duas semanas), há cerca de cinco anos. Para manter o orçamento da família em dia, decidiu fazer marmitex para a comunidade indiana e vender samosas em feiras promovidas para o Consulado. A fama de seu tempero se espalhou: cozinhou como convidada na Mercearia do Conde, participou da finada feira O Mercado e, em 2012, abriu seu primeiro restaurante.

Momos: chamados de 'guioza indiano' são feitos ao vapor e recheados por vegetais ou frango

Momos: chamados de ‘guioza indiano’ são feitos ao vapor e recheados por vegetais ou frango

O novo Samosa & Company dos Jardins é mais ambicioso no menu gigantesco de 73 pratos, no salão relativamente grande e nas tentativas de incorporação de cozinha molecular (sem nenhum sentido) e de uma carta de drinques (fracos).  O que continua sendo bom, mesmo, é a cozinha tradicional indiana preparada por Deepali. Muito bom.

Uma das novidades desta unidade é a vasta seção dedicada a receitas vegetarianas – na Índia, parcela significativa da população não come carne – como o saboroso Vegetarian Kofta (bolinhas de vegetais e ervilhas cozidas em molho encorpado de tomate, cebola, castanha de caju e creme de leite, R$ 39), o Navratan Korma (nove tipos de vegetais em molho de castanha de caju e abacaxi, R$ 40) e o Jackfruit Curry (jaca verde, que tem textura e sabor semelhante a carne de frango, com especiarias, R$ 40).

Vegetariano e delicioso: Vegetarian Kofta. Bolinhas de vegetais cozidas em molho de tomate, cebola, castanha de caju e creme de leite

Vegetariano e delicioso: Vegetarian Kofta. Bolinhas de vegetais cozidas em molho de tomate, cebola, castanha de caju e creme de leite

Há também peixes e frutos do mar, frango, carne, cabrito, pratos preparados no forno Tandoor, sopas… A receita assinatura da chef, as samosas, continuam deliciosas. Como entrada, são vendidas em porção de 4 unidades nas versões vegetariana, frango, e cabrito (R$ 20, em média, cada). Mais delicados, os Momos tem receita originária do Tibet: o recheio vegetariano ou de  frango é envolto por massa de arroz feita no vapor (R$ 21, porção).

A gastronomia molecular invadiu a Índia: entre as novidades do Samosa e Company Jardins, bolinho de batata com chutney de tâmaras e hortelã coroados por esferas de iogurte

A gastronomia molecular invadiu a Índia: entre as novidades do Samosa e Company Jardins, bolinho de batata com chutney de tâmaras e hortelã coroados por esferas de iogurte

Para os que gostam de carne de cabrito, são oferecidas oito receitas, dentre as quais a mais famosa é o Roghan Josh, de origem persa, que une vários cortes de cabrito cozidos lentamente em molho com cebola, iogurte, alho, gengibre, especiarias, Ghee e pimenta (R$ 59).

Como os pratos não vem com acompanhamento, e é absolutamente necessário raspar até a última gota de molho, peça os maravilhosos naans e parathas – estas últimas feitas com farinha integral- assados na hora. Gosto especialmente do Gobi Paratha, recheado com creme de couve flor (R$ 12). Entre as porções de arroz, a mais saborosa é a Jeera Basmati: arroz basmati refogado com ghee e semente de cominho (R$12).

Khichade (arroz úmido com feijão andu, semente de cominho e legumes) e Navratan Korma

Khichade (arroz úmido com feijão andu, semente de cominho e legumes) e Navratan Korma

Para finalizar, Gajar Halwa, o meu querido doce de cenoura que leva leite, amêndoas e castanhas (R$ 18) e Gulab Jamon, bolinhos de leite fritos e regados com calda de água de rosas e cardamomo (R$ 18), entre outros

Durante a semana, a casa serve apenas menu executivo no período do almoço. Os preços giram entre R$ 30 e R$ 40 (entrada, prato e sobremesa).

São Paulo ganhou mais um restaurante de comida indiana verdadeira e bem feita. Contudo é preciso advertir: o serviço é muito, muito confuso e a cozinha muito, muito demorada. Vá com calma e bom humor – são essenciais.

Comente

Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados