Cepa: um grande restaurante fora da rota gastronômica paulistana

Ambiente do Cepa, no Tatuapé

O novo Cepa é do tipo de restaurante que eu adoraria ter perto de casa: comida autoral e cheia de sabor, sazonal, repleta personalidade e que une simplicidade e técnica. Pra melhorar, tem bons preços. Mas, no caso, não fica nada perto de casa… Quem mora no Tatuapé, contudo, pode se alegrar: o bairro ganhou um tremendo restaurante.

Burrata, beterraba e vinagrete de mel (R$ 28) do Cepa, no Tauapé

O chef Lucas Dante criou menu conciso, baseado em produto: a ideia é trabalhar majoritariamente com insumos da estação. O cuidado com a entrega do conceito começa na sugestão diária de pratos (preparados com ingredientes mais frescos possíveis), passa pela alteração mensal do cardápio (para aproveitar os melhores ingredientes da temporada) e chega até a produção, no restaurante, de quase tudo o que é servido: embutidos e curados, pães, ricota, picles, compotas.

Comi muito, muito bem ali.

Da série “simplicidade encontra maestria”: excelente pão de fermentação natural (miolo macio e casca crocante) feito na casa, cogumelos salteados, emulsão de gema indecentemente gostosa (com toque de pimenta do reino) e delicados pedacinhos crocantes de pancetta.

Sugestão do dia: excelente crudo de robalo-peba, emulsão de vinagre de Jerez e pistache

Feijão branco acidulado com Jerez acompanha impecável – tanto no ponto quanto na textura -dianteiro de Angus e farofa de pão da casa

Entre as entradas atuais, vá de Trio de acepipes montado com fatias de aromático pão de fermentação natural, peperonata delicada e com leve sabor de grelha (na qual os pimentões foram marcados), deliciosa escarola defumada curtida no azeite e ricota fresca (R$ 22). Outro acerto, a alva e cremosa burrata vem em companhia de beterraba e vinagrete de mel (R$ 28). A sugestão do dia em que almocei por lá foi bem feitíssimo crudo de robalo-peba, emulsão de vinagre de Jerez e pistache (R$ 28).

Não deixe de provar os vinhos naturais da carta do Cepa, feita pela sommelière Gabrielli Fleming, também sócia da casa

Por falar em acidez, eis algo que o chef domina como poucos: seus pratos trazem de forma marcada e muito bem colocada. Exemplo é o delicioso feijão branco acidulado com Jerez que acompanha impecável – tanto no ponto quanto na textura –  dianteiro de Angus e farofa de pão da casa (R$ 58).

Do Novo Cepa: Trio de acepipes. Pão de fermentação natural, peperonata delicada e com leve sabor de grelha, deliciosa escarola defumada curtida no azeite e ricota fresca

Pratos principais são apenas quatro fixos (o dianteiro é um deles) e uma sugestão do dia. Única opção vegetariana (eis uma falha da casa), o gostoso rigatoni é coberto por creme de abóbora e stracciatella (R$ 42), então levado ao forno para gratinar e garantir aquele crocante viciante na ponta de algumas das massas.

Rigatoni, creme de abóbora, straciatella e sálvia

O Cepa é também um bom local para tomar vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos. A carta, feita pela sócia da casa e  sommelière Gabrielli Fleming,  traz rótulos cheios de vida e nada óbvios. Gabrielli guia lindamente os clientes por esse mundo fascinante.

A imperdível compota de tangerina com casca e ricota produzida na casa

Sobremesas: coma todas. A compota de tangerina com casca servida com ricota fresca (R$ 16) é tocante na combinação de total rusticidade com domínio técnico: macia e com mordida, ácida e doce, potente e equilibrada.

Só parece comum: bolo etéreo de chocolate (feito com farinha de arroz) e sorvete de Kefir do Cepa

A descrição “bolo de chocolate com sorvete de kefir“(R$ 16) não entrega, nem de longe, a sedosidade da massa preparada com farinha e arroz, que desaparece na boca ao menor contato com a língua, nem a acidez do sorvete, que harmoniza com o amargor domado do cacau. Mais uma beleza calcada na simplicidade.

Gelatina de espumante e peras cozidas do Cepa

O Cepa vai me obrigar fazer o caminho Perdizes-Tatuapé muitas vezes…

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