Barú Marisquería: peixes e frutos do mar com sabores latinos

Uma pequena porção com sabores, equilíbrio e cozimento memoráveis: salteado de lulas com feijão manteiguinha e salsa de chile verde (R$ 40)

Como escrevi em outro post, apesar de possuirmos uma grande costa (7,4 mil km) e rios ‘sem fim’, o brasileiro consome pouquíssimo peixe. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, consumimos 10,6 quilos per capita de pescados ao ano. As razões passam pelo nosso sucateado sistema de pesca, pela quantidade de atravessadores (o que envelhece e encarece o produto), pela péssima distribuição e por considerarmos salmão mais ‘chique’ do que manjuba, entre outros.

Se já era bem ressabiada com a procedência dos pescados nacionais, fiquei ainda mais no final do ano passado, quando “relatório elaborado por técnicos da UE apontou falta de higiene em embarcações, rastreabilidade ineficiente dos produtos e falhas na refrigeração“, o que causou embargo ao nosso produto na Europa.

Ceviche vegetariano? Sim, e muito do saboroso: cogumelos, avocado, palmito pupunha e ají amarillo. Do Barú Marisquería

Por essas e outras que só consumo pescados e frutos do mar que não vieram de cativeiro (geralmente cheio de doenças e de antibióticos), que estão na temporada e, preferencialmente, não passaram por congelamento. Ainda é complicado encontrar estabelecimentos que trabalhem com esses insumos? Sim, é. Mas a inauguração do Mare, restaurante do Eataly, e do novo Barú Marisquería começam a facilitar a vida de quem se importa como é produzido o que come.

Maria Sangrienta (suco de tomate temperado com dose de tequila à parte) e Mastruz com Leite (cachaça branca, mastruz, suco de limão, xarope de açúcar, maracujá) do Barú Marisquería

A frente do pequeno Barú está o chef colombiano Dagoberto Torres, conhecido pelo seu trabalho no Suri (especialmente os ceviches), da onde se desligou há mais de um ano. Depois de uma temporada fora do Brasil, Dagoberto volta com uma casa mais divertida, criativa e praiana do que seu antigo empreendimento.

O Barú (o nome é uma homenagem à Isla Barú, perto do Cartagena, primeiro lugar em que o Dagoberto viu o mar, aos 10 anos) tem cardápio conciso, focado em porções para compartilhar e mutável: o que será servido depende totalmente do que seus fornecedores – Cauê Tessuto e Guará Vermelho (criação sustentável de vieiras, em Picinguaba) – entregam. Isso é respeito a sazonalidade.

Mesas externas e vista do pequeno salão do Barú Marisquería, nova casa do chef Dagoberto Torres

Os preços, obviamente, são sempre um tema.
É barato? Não. Daria para ser? Não. Quando se trabalha com pesca marítima sustentável, pequenas embarcações e equipe treinada, é inviável vender pratos a preços de salmão chileno ou camarões de tanque alimentados a base de ração.

Boronia: berinjela grelhada com banana da terra, hogao e coalhada seca (R$ 21)

O menu. Claro que nele estão seus ótimos ceviches – o clássico peruano, com peixe do dia marinado no limão, cebola, coentro e pimenta  sai a R$ 36 -, mas as opções mais interessantes são aquelas que saem da parrilla, imprimindo o mágico sabor chamuscado, que me transporta direto pra praia… especialmente se me sento às mesas externas do Barú, instalado numa charmosa vila na Rua Augusta. Pode haver salteado de lulas com feijão manteiguinha e salsa de chile verde (R$ 40), posta alta e úmida de pescado do dia com vegetais e chumichurri (R$ 39), Polvo com salsa de chiles secos e vegetais (R$ 36)…

Da parrilla da Barú Marisquería saem lindezas chamuscadas como essa dourada com legumes.

Os legumes e verduras tem excelente tratamento, não sendo meros acompanhamentos. Exemplos: o fresco ceviche amarillo, preparado com gordos cogumelos, avocado e palmito pupunha (R$ 34), a cremosa Boroni, meia berinjela grelhada com banana da terra caramelada, hogao (molho colombiano a base de tomate, cebola, alho e cominho) e coalhada seca (R$ 21) e as mandiocas na brasa (R$ 15).

A carta de drinques oferece coquetéis tão atrativos quantos os pratos. Prove o Mastruz com leite (cachaça branca, mastruz, suco de limão, maracujá, açúcar e clara, R$ 28) e o Guarapo n.32 (tequila infusionado com limão siciliano, xarope avinagrado de abacaxi, tônica e angostura, R$ 32).

Única sobremesa da Barú Marisquería: delicioso Três Leches com abacaxi na brasa, manga e raspas de limão

As sobremesas se resumem a uma que reina muito bem sozinha: Três leches com abacaxi na brasa, manga e raspas de limão (R$ 17). Cremoso, molhadinho, doce no ponto.

Comente

Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados