Muitos anos se passaram até que Rodrigo Oliveira concordasse em sair da Vila Medeiros com sua comida: o chef sempre fez questão de dizer que lá está seu coração, seu começo, sua história. Cerca de dois anos atrás, depois de muita insistência, inaugurou o diminuto Mocotó Café, no Mercado de Pinheiros. Um pedacinho de sua casa famosa que sacia, estrategicamente, os desejos mais prementes dos moradores da zona oeste (nada de menuzão: apenas alguns beliscos e dois ou três pratos emblemáticos).
Agora, finalmente, Rodrigo desembarca com cozinha completa: e em plena Avenida Paulista. O Balaio, seu novo restaurante, ocupa o andar térreo do novo Instituto Moreira Salles. Apesar do cozinheiro não dar expediente por lá diariamente (ele continua comandando as casas da Vila Medeiros), a chegada de Rodrigo fez um baita sucesso: pode-se ver, através das paredes de vidro do salão, que o local está sempre lotado e com constantes filas de espera.
O cozinha do Balaio situa-se em algum ponto entre a do Mocotó e do Esquina Mocotó: não é tão tradicional quanto a do primeiro, tampouco tão autoral quanto a do segundo. É mais fácil de compreender. Tem sabores menos marcantes e mais democráticos, no sentido de agradarem um número maior de pessoas. É menos sertaneja e mais brasileira.
Os emblemáticos dadinhos de tapioca (R$ 25, porção) estão no menu, claro: haveria um motim dos comensais se não estivessem. Há, contudo, sugestões de entrada mais interessantes, como os pastéis de verduras – que variam de acordo com a sazonalidade – e queijo Canastra (R$ 14), os cremosos croquetes de linguiça bragantina (R$ 19) e o ótimo ceviche de beijupirá com fitas coco fresco, cebola roxa e leite de umbu (R$ 29). Das minhas três visitas, meu prato favorito foi o suave vinagrete de feijão verde, quibebe, queijo de cabra e castanha de caju (R$ 25), que dosa belamente acidez e doçura.
A seleção de queijos brasileiros (R$ 49) traz bons exemplares, serve duas pessoas e vem acompanhada de compotas de frutas e castanhas. Triste que a equipe não esteja treinada para dizer quem são os produtores de cada um – apesar de saberem apontar os tipos que, em vez de trazerem o Brasil em si, são emulações de queijos europeus, a começar pelos nomes – e que o valor não inclui cesta de pães.
Compartilhar é fácil, no Balaio, inclusive com três pratos em porções pensadas para isso: a caldeirada caiçara servida com arroz vermelho e farofa (R$ 149), a paleta de cabrito assada acompanha por baião de dois cremoso e legumes (R$ 158) e a moqueca de caju, palmito, banana da terra e ora-pro-nóbis que vem escoltada por arroz vermelho e farofa (R$ 98) que, apesar de linda, careceu de temperos, caindo no dulçor sem nenhum contraponto.
Para quem não quer dividir nada, há macio Cupim de panela com cuscuz de milho e fava verde (R$ 49), tainha com pirão de frutos do mar e banana da terra (R$ 59) e bife com arroz, feijão, mandioca, vinagrete de abóbora (R$ 54), entre outros.
Mesmo sendo carnívoro, o cardápio oferece opções para quem não quer ou não come carne, caso do cremoso angú de fubá caipira, ovo pochê, ora-pro-nóbis, vegetais do dia e queijo Canastra (R$ 49) e dos cogumelos com batata doce, molho cítrico e folhas (R$ 49).
Do bar saem drinques bem feitos, brasileiros em essência e que conversam bem com o cardápio. Entre os que provei, meu predileto foi o caju atômico, feito com cachaça mazzaropi, shrub (preparo a base de vinagre, frutas e acúcar) de caju com especiarias, limão (R$ 27). As caipirinhas de três limões ou de maracujá, tangerina e mel também saem por R$ 27, cada.
Para finalizar, vá de delicadíssima torta de goiaba coroada por sorbet de goiaba com pimenta rosa (R$ 18) e café Orfeu coado (R$ 7).
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