Ama.zo: peruano nada genérico e de sabores vibrantes

Arroz Norteño traz macios polvo, camarões e lulas na parrilla, salsa chalaquita finalizada com a cremosidade da gema mole

Há uns 10 anos rolou o boom da cozinha peruana em São Paulo: toda biboca servia ceviche e pisco sour.
O tempo passou, outras modinhas vieram, as casas foram fechando. A maioria que sobrou acabou se tornando tornando meio genérica: assim como por aqui cozinha japonesa virou sinômino de sushi, cozinha peruana reduziu-se a ceviche (geralmente ácidos de trincar os dentes). É triste ver uma culinária tão rica ser caricaturizada e empobrecida… Por isso meu almoço no Ama.zo  foi tão, tão prazeroso: demorou apenas uma garfada pra me transportar pra Lima.

Sabores complexos e reconfortantes, salsas impecáveis, receitas sem obviedade, inclusive as tradicionais (que puta ceviche!). Isso, sim, é um restaurante PERUANO. Para melhorar, fica em meio a jabuticabeiras e orquídeas do jardim da Casa de Don’Ana, nos Campos Elíseos.

Dupla mais peruana, impossível: pisco sour e Chilcano

A mansão projetada por Ramos de Azevedo passou por reforma e ganhou café, restaurante, coworking e espaço para eventos, além de linda área externa coberta.

Com cardápio criado pelo chef peruano Enrique Paredes – do restaurante Barrakhuda, de Lima -, o Ama.zo tem cozinha e salão comandados por peruanos. Claro que isso por si só não garante a qualidade mas, neste caso, assegurou  legitimidade rara de se encontrar.

Os deliciosos Patacones (discos fritos de banana-da-terra) com lagarto desfiado, cebola e mousse de mandioca do Ama.zo

Entre as entradas, não deixe de provar os excelentes Patacones (discos fritos de banana-da-terra) com lagarto desfiado, cebola e mousse de mandioca (R$ 26).

Se o seu lance é ceviche, ali é o lugar para comê-los. Das cinco variações, uma das  mais apetitosas é a Miraflores: peixe do dia (no caso, pescada branca) em saboroso leche de tigre cremoso a base de limão, alho, salsão e gengibre, batata doce cozida e milho crocante (R$ 44). Picante no ponto certo, pelo menos para mim, vem guarnecido de agradável e adocicado creme feito com maracujá, amido de milho e açúcar que, segundo o garçom, serve para passar nos lábios a fim de neutralizar o efeito da pimenta. O Nikkei é montado com atum em salsa oriental, mousse de avocado e couve frita (R$ 53)

Jardim da Casa de Don’Ana, no qual fica instalado o Ama.zo

Os nove principais englobam opções mais tradicionais – como o Lomo Saltado, feito com filé mignon salteado na wok e servido com batatas rústicas, vegetais e arroz com ervilhas (R$ 44) – e outras mais interessantes, caso do Arroz Chaufa Vegetariano (R$ 34) e do Quinoto (espécie de ‘risoto’ de quinoa), a la Huancaína, à base de creme queijo e camarões flambados (R$ 52).

Encorpado, cremoso e bem temperadíssimo, o Arroz Norteño traz macios camarões, polvo e lulas na parrilla, salsa chalaquita (cebola, suco de limão, coentro, ají e azeite de gergelim) finalizada com a cremosidade da gema mole. Para um toque terroso, banana-da terra levemente grelhada com queijo (R$ 54).

Miraflores: peixe do dia em saboroso leche de tigre cremoso a base de limão, alho, salsão e gengibre, batata doce cozida e milho crocante (R$ 44).

O sanduíche de frango, que vi “passando” pelo salão nas mãos do garçom, é uma beleza tamanho GG: filezão de frango frito em companhia de molho tártaro, folhas de agrião e fritas  (R$ 26)

Acompanhe a refeição com o refrescante Chilcano, coquetel à base de pisco, limão, angostura e capim santo (R$ 25).

Suspiro Limeño do Ama.zo: desconstruído e menos doce

A culinária peruana não é exatamente forte em sobremesas. Uma das mais tradicionais é o dulcérrimo Suspiro Limeño, do qual não sou nada fã: o creme de leite condensado com limão finalizado com suspiro tem tanto açúcar que até arranha a garganta. O Ama.zo, contudo, oferece uma versão moderna e  desconstruída, além de ter menos açúcar: o doce de leite preparado na casa vem em companhia de suspiro com togarashi (pimenta japonesa em pó), pralinê de castanha do Pará e sorvete que, no dia, era de jabuticaba e trouxe pela acidez ao conjuntos (R$ 16).

Ama.zo: definitivamente, um restaurante para ir muitas vezes.

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